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Daniel Cardoso

FCSH-UNL / ULHT

Inês Rôlo Martins

CICANT, ULHT

 

Resumo / Abstract

No contexto do projecto de investigação “Envolvimento Cívico Feminino Online – Redefinindo a Esfera Pública”, este trabalho procura entender de que forma a internet vem possibilitar a expressão do discurso das mulheres, revitalizando a esfera pública habermasiana, ainda que não sob a sua forma clássica. A centralidade desta investigação marca-se pela compreensão das potencialidades das novas tecnologias na obtenção de uma sociedade mais igualitária, capaz de fornecer voz a quem frequentemente não a tem, capaz de albergar até formas específicas de utilizar os novos media.

Tomamos como ponto de partida as reflexões de L. Dhalberg e Susan Herring, e tendo em conta as críticas às concepções de esfera pública habermasiana de Nancy Fraser e a ideia de democracia comunicativa de Iris Marion Young, o objectivo deste trabalho é compreender como é que, nas conversações do fórum português da associação LGBT ex aequo, se (não) manifesta na prática o ideal de uma esfera pública online. Ao utilizar as threads mais comentadas do ano de 2010, poderemos ver se os tópicos mais mobilizadores contêm os marcadores da comunicação argumentativa racional típica, como definidos por Habermas e, depois, actualizados no campo dos novos media por Papacharissi. Será a conversação principalmente dominada por processos argumentativos racionais conducentes à obtenção de uma forma optimizada de acção social, política e pessoal? Haverá alguma estrutura ou postura argumentativa dominante por entre as utilizadoras do género feminino, que se distinga dos utilizadores de género masculino? Como é que a experiência da não-heterossexualidade no fórum ex aequo se compara com outros estudos sobre a mesma temática (e.g.: Rak, Abreu)?

Recorrendo ao método de Análise de Conteúdo assistida por computador (utilizando o programa NVivo), procuraremos apresentar as tendências e temas principais neste fórum temático, que procura agregar pessoas interessadas nas questões LGBT, bem como caracterizar as estruturas argumentativas mais recorrentes. Será então necessário compreender como é que o recurso a processos de intertextualidade e legitimação discursiva através de uma abordagem biologizante das identidades sexuais e de género interage com o funcionamento do dispositivo de sexualidade foucauldiano. Se, como Gayle Rubin, considerarmos que o sistema de construção de género é também um sistema de construção de sexo, é necessário então ler estes resultados essencialistas à luz da posição pós-feminista, e de como também esta contribui para o reforço do discurso patriarcal, heteronormativo. Os recursos retóricos envolvidos permitem então a legitimação do trabalho identitário levado a cabo no fórum, potencialmente à custa do questionamento racional das informações apresentadas, elidindo mesmo diferentes experiências de género (e, portanto, diferentes horizontes discursivos) numa visão homogeneizante das sexualidades não-normativas – visão essa que incorre no risco de, ela mesma, se tornar uma outra normatividade.

 

Palavras-chave: Esfera pública, internet, LGBT, género, fóruns

 

Apresentação na Conferência

 

(em conjunto com a apresentação de Inês Rôlo Martins)