Apresentação na X SOPCOM, Viseu, 2017.
Com Marisa Torres da Silva e Ana Rosa.
Abstract
A internet é um espaço fundamental para a criação e desenvolvimento de comunidades que se organizam para lutar pelo reconhecimento de Direitos Humanos, nomeadamente no campo da cidadania da intimidade (Plummer, 1994). Isto é particularmente verdade no caso de identidades e grupos emergentes (Policarpo, 2011; Santos, 2013), como é o caso do poliamor, uma forma de não-monogamia consensual, e que diz respeito à “suposição [assumption] de que é possível, válido e valioso [worthwhile] manter relações íntimas, sexuais e/ou amorosas com mais do que uma pessoa”, com o consentimento informado de todas elas (Haritaworn, Lin, & Klesse, 2006, p. 518).
No entanto, os media noticiosos continuam a ser fundamentais, uma vez que têm a capacidade de rapidamente mobilizar a atenção de um grande número de pessoas, e de ajudar a estabelecer os tópicos de discussão, num determinado momento, bem como a fomentar ou não a participação cívica (Casero-Ripollés & López-Rabadán, 2014). Isto é uma das razões pelas quais os movimentos cívicos tendem a investir esforços e tempo em interagir com o jornalismo.
Porém, o público não se limita a estar numa posição de receptor face ao jornalismo – a imprensa, online ou não, é um local de exercício de debate público político (Torres da Silva, 2014), onde as plataformas (digitais ou analógicas) podem operar enquanto esfera pública (Silveirinha, 2005). Da mesma forma, o discurso pode também transformar-se em incivilidade, em que insultos ou comentários irrelevantes substituem o debate político e reproduzem violência sistémica.
A investigação teve como ponto de origem a identificação da mais visível reportagem sobre poliamor em Portugal, resultado de um trabalho conjunto entre a SIC e o jornal Expresso, e que foi transmitida no Jornal da Noite, em horário nobre, para além de ter sido colocada online no site da SIC Notícias, em Abril de 2014. Esta reportagem foi partilhada pelas páginas de Facebook dos respectivos órgãos de comunicação social.
Foi feita a recolha dos comentários nas páginas de Facebook dos OCS, que foram depois importados para o NVivo 11, onde se procedeu à criação de uma grelha de codificação inspirada na grounded theory research, e que permitiu fazer uma análise temática dos mesmos, quanto à presença de civilidade, incivilidade, concepções de política utilizadas e vinculação ou desvinculação face ao tema.
A partir da análise dos dados, compreendemos que existem perfis claramente diferentes de recurso à incivilidade, consoante os comentários apresentam vinculação ou desvinculação com a legitimidade das não-monogamias consensuais enquanto categoria política; que também os comentários de apoio apresentam discurso de incivilidade; que o discurso sexista, homofóbico e racista está muito presente e é estruturante de boa parte do debate; e que as visões de política apresentadas implicam, de um lado, um policiamento sobre tipos de intimidade ‘correctos’ (Rubin, 2007) e, de outro, uma visão privatizada e atomizada dos Direitos Humanos sobre cidadania da intimidade.
Áudio
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Parte do Painel "Redes Sociais e Novas Tecnologias: Impacto Psicológico e Social" na XXV Semana da Psicologia e Ciências da Educação, da FPCE-UP, Porto, 2017.
Parte do Corpo Editorial de revista (in)visível.
Peer-review nas seguintes publicações:
- revista (in)visível
- Psychology and Sexuality
- Gênero & Direito
- Journal of Social and Personal Relationships
- European Psychologist Journal
- Sexuality & Culture
- FQS - Forum Qualitative Sozialforschung
- estrema: Revista Interdisciplinar de Humanidades
- Revista Crítica de Ciências Sociais
- Journal of Bisexuality
Aula Aberta em Sociologia da Família na Universidade do Minho, a 27/4/2017.
Áudio
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